Introdução
Atualmente, o futebol brasileiro pode ser acompanhado em várias competições ao mesmo tempo, e isso parece ótimo para os amantes do esporte. Jogos praticamente o ano todo e em média duas vezes na semana, maiores chances de triunfo de seus times, além da garantia de entretenimento, mesmo para quem não entende muito do assunto. A dificuldade para os atletas está em administrar as atenções e o preparo físico para os jogos, e também em saber para qual disputa dedicar mais foco, pois cada uma tem a sua importância.
O que seria motivo de prestígio está, de certa forma, punindo times grandes, pois ao conquistarem as vagas nessas competições, o número de compromissos e viagens se torna maior, e assim o desgaste também pesa mais. E aqueles que não tiveram tanto sucesso no ano que passou acabam sendo "beneficiados" com mais tempo de descanso.
Neste artigo vemos como a demanda excessiva das competições afeta a saúde e a performance dos jogadores, como a torcida encara a situação e o que poderia ser feito para que a rotina de jogos não deixe marcas negativas nos atletas e para que se mantenha a qualidade do futebol apresentado.
O calendário brasileiro em 2025

Neste ano, Palmeiras, Flamengo, Fluminense e Botafogo, por terem conquistado as quatro últimas edições da Copa Libertadores da América, estarão no Super Mundial, disputado nos Estados Unidos no meio do ano, o que inclusive vai paralisar o calendário do Campeonato Brasileiro. Desses quatro, somente o tricolor carioca não está na Libertadores, mas está na Sul-Americana.
Devido à interrupção pelo Super Mundial, o cronograma brasileiro precisou ser adaptado, com os estaduais iniciando na segunda semana de janeiro e tendo suas finais em março, para já no final do mesmo mês começar o Brasileirão. No dia 2 fevereiro, a Supercopa Rei, anteriormente chamada de Supercopa do Brasil, foi disputada entre Botafogo e Flamengo, respectivamente o vencedor do Campeonato Brasileiro e o da Copa do Brasil de 2024. Ainda em fevereiro, o Botafogo também jogou a Recopa enfrentando o Racing, da Argentina, campeão da Copa Sul-Americana. A Copa do Brasil segue desde fevereiro, com a final definida para novembro. A Libertadores também termina em novembro. E em dezembro ainda ocorrerá a Copa Intercontinental, que substitui o antigo Mundial de Clubes e terá o campeão da Libertadores entre os competidores. Isso antes de o Brasileirão acabar.
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Ou seja, caso um time brasileiro mais uma vez conquiste a América, terá de encarar mais um desafio com as datas.
Consequências físicas da maratona de jogos
Com as competições ocorrendo simultaneamente, a pausa para recuperação física entre um jogo e outro fica apertada. É necessário um planejamento muito eficiente por parte das comissões técnicas para que os jogadores consigam cumprir com as exigências e que o tempo mínimo de descanso, que é de 72 horas, seja respeitado. Os jogadores são os principais prejudicados, pois ficam expostos a lesões, estiramentos, fadigas e longos períodos de recuperação, sem poder jogar. Alguns exemplos são Pedro e Bruno Henrique, do Flamengo, Thiago Silva, do Fluminense, Neymar, entre tantos outros.
Além da sobrecarga física, eles ficam sujeitos também a um esgotamento mental e a um desgaste emocional, o que pode afetar seu próprio desempenho dentro de campo. Quando o intervalo entre jogos é insuficiente, fica mais difícil manter a concentração e a qualidade tática durante a partida. É o mesmo efeito que o déficit de horas de sono causa em qualquer pessoa. Apesar de muita gente negligenciar esse repouso necessário, não se pode negar que as consequências aparecem.

Como a torcida reage

As equipes que estão disputando mais de uma competição sofrem a cobrança de conseguir bons resultados em todas. Mas como é praticamente impossível ganhar tudo o tempo todo, acabam optando por decisões táticas que tendem a priorizar uma em detrimento de outra. Quando um treinador escala um time misto ou escolhe poupar jogadores em um jogo de determinado campeonato, visando uma copa mais rentável, corre o risco de não conseguir o resultado esperado e acabar deixando a desejar. Algumas dessas decisões podem frustrar torcedores, que se incomodam em verem bons jogadores no banco de reservas ou cortados. E se o time perde, já apontam as causas e o culpado. O que o torcedor quer é ver seu time ganhando sempre.
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Isso tudo pode afetar até mesmo a frequência da torcida nos jogos. Eles também sentem o desgaste de muitas partidas em sequência e podem ter que escolher entre uma e outra, seja por cansaço físico, por insatisfação e desesperança com os resultados ou por questões financeiras, já que os valores dos ingressos nos estádios também não têm sido algo tão atrativo.
O que poderia ser feito?
Além de uma programação adequada de treinos, alimentação e descanso, um time precisa ter um bom elenco, com variedade de opções, para poder revezar nas escalações e não sacrificar ninguém. Mas isso não é a realidade de muitos clubes. Aqueles com menos recursos financeiros são os que mais sofrem. Está sendo cada vez mais necessário realizar mais com menos.
Essa rotina extenuante tem gerado debates sobre uma reformulação no calendário esportivo. Para mitigar esses impactos, algumas medidas poderiam ser adotadas, como a redução da quantidade de jogos nas competições, defendida por jogadores como o goleiro Alisson e os treinadores Renato Gaúcho, Rogério Ceni e Pep Guardiola, já que o excesso de jogos também é uma questão na Europa.
Uma revisão na estrutura dos torneios, até mesmo avaliando a necessidade de jogos de ida e volta, seria mais uma alternativa, além de um calendário mais bem-planejado, que consiga equilibrar interesses políticos, comerciais e esportivos. Maior quantidade de jogos não significa necessariamente mais ganhos financeiros. Embora mais partidas possam gerar receita adicional com ingressos e direitos de transmissão, os custos com lesões, contratação de reforços e logística muitas vezes superam os ganhos. Além disso, o cansaço pode prejudicar o desempenho em competições chave, como Libertadores e Champions League, em que as premiações são mais altas.
Mas, principalmente, é necessário que os atletas sejam mais ouvidos e que as decisões levem em consideração as dores de quem vive na pele toda a dificuldade em proporcionar um belo espetáculo aos olhos do público. A longo prazo, esse ritmo excessivo pode afetar seriamente peças importantes e arranhar o brilho desse espetáculo.

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